Por: Gerson de Souza Mól
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática – REAMEC (UFMT), Universidade de Brasília (UnB) – Brasília, DF, Brasil.
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Como Ciência, a Química se constituiu com quatro grandes áreas – Química Inorgânica, Química Orgânica, Físico-Química e Química Analítica – com objetos de estudo e metodologias específicas. Entretanto, na segunda metade do século XX surge a área de Ensino de Química, com objeto de pesquisa próprio, exigindo profissionais com formação específica e que façam uso de metodologias adequadas para resolução de seus problemas relacionados ao processo de ensino-aprendizagem do conhecimento químico.
Os pesquisadores em Ensino de Química geralmente têm a Química como formação inicial. Este fato, entre outros, fez com que as primeiras pesquisas nessa área tivessem caráter muito quantitativo e comparativo. A combinação de pré-teste e pós-teste é considerada a melhor forma de medir a aprendizagem proporcionada por uma metodologia em estudo. Essa aprendizagem é definida a partir de números obtidos por medidas quantitativas, sendo que muitas vezes pequenas variações são consideradas como representativas de eficiência metodológica.
Porém, à medida que o tempo passou, esses pesquisadores foram tendo cada vez mais clareza de que não lidavam com substâncias e materiais inanimados que interagem em função de leis físicas, mas sim com pessoas que têm personalidades, sonhos e frustrações. Dessa forma, os números passam a ter menos valor e as interpretações humanas, praticamente inadmissíveis nas “Ciências Duras”, ganham cada vez mais espaço. Isso não quer dizer que os números não tenham valor, mas sim que esse valor é menor.
Na pesquisa em Ensino de Química ou de Ciências, assim como na Química Analítica, não há qualitativo sem quantitativo e vice-versa. Para quantificar, há a necessidade de primeiro qualificar. Qualificar exige saber a representatividade que pode ser expressa em proporções numéricas. Por isso, normalmente, na graduação em Química, primeiro se estuda a Química Analítica Qualitativa para depois se estudar a Química Analítica Quantitativa.
Atualmente, as metodologias qualitativas são predominantes nas pesquisas em Ensino de Química/Ciência. Isso acontece porque a pesquisa quantitativa foca principalmente no estudo de fatos e fenômenos observáveis e passiveis de serem medidos. Por outro lado, a pesquisa qualitativa descreve fenômenos por palavras e não por números, visto que a Ciência é uma área do conhecimento construída pelas interações sociais e contexto sociocultural.
Dessa forma, na pesquisa qualitativa o foco principal é compreender os significados dos fenômenos vivenciados, considerando seus múltiplos contextos e o fato de que toda Ciência é produzida por pessoas que significam o mundo e seus fenômenos. Assim é o Ensino de Ciências: processos interativos que acontecem nas relações entre professores, estudantes e os conceitos.
Pesquisas com enfoque qualitativo podem ser feitas por meio de uma enorme variedade de abordagens. Em todas elas, normalmente, são grandes as quantidades de dados obtidos, exigindo dedicação e cuidado para análises mais fidedignas. Os dados de pesquisas qualitativas não visam representar o geral, mas sim compreender o contexto estudado, permitindo a construção de novas teorias e hipóteses e dando origem a novos problemas pesquisas.
A pesquisas qualitativas, por estarem muito centradas na observação e interpretação do pesquisador, geram dados que exigem formas apropriadas de análise. De forma mais simples, a utilização de software para auxílio na análise de dados qualitativos pode ser feita em diferentes níveis, a começar pelo uso de editores de texto que permitem a organização dos dados em tabelas e planilhas, mais fáceis de manipular do que fichas escritas ou textos contínuos. Foi o que fiz ao analisar as entrevistas da minha pesquisa de tese, construindo tabelas com repostas que eram categorizadas manualmente, por meio de recurso do editor de texto para realçar categorias, dando destaque as falas com colores e comentários. Análises mais elaboradas podem ser feitas com auxílio de software de análise de dados qualitativos (Computer Assisted Qualitative Data AnalysiS – CAQDAS) que ganharam espaço nas últimas décadas. Esses podem exigir um grande esforço para o aprendizado do manuseio da ferramenta. No entanto, após essa fase inicial, o trabalho de análise é facilitado, expandindo o potencial de estudo.
Dentre a opção disponível, temos feito uso do software webQDA que também possibilita o trabalho colaborativo em pequenos ou grandes grupos, uma vez que os objetos de análise, em diferentes formatos, podem ser manipulados, simultaneamente ou não, em diferentes lugares, possibilitando-nos uma construção coletiva.
Bibliografia
MOL, G. S., Pesquisa Qualitativa em Ensino de Química, Revista Pesquisa Qualitativa, v. 5, n. 9, p. 495-513, 2017
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