Fotoetnografia como Técnica de Análise

Por Jorge Remondes, ISVOUGA

Na edição especial do International Journal of Marketing, Communication and New Media, os editores efetuam uma pequena abordagem ao uso da fotoetnografia (Remondes, Linhares, & Costa, 2016), evidenciado assim que a Investigação Qualitativa em Marketing e Comunicação tem um potencial de crescimento face às diferentes formas de recolha e de análise de dados. Neste enquadramento, encaixa a técnica de análise de dados fotoetnográfica, quando a foto é o principal instrumento para a realização do estudo etnográfico (Boni & Moreschi, 2007). A fotografia etnográfica pode estar inserida em trabalhos científicos e pode ser caracterizada como objeto de estudo ou pesquisa.

Partindo da definição de Etnografia em que a mesma estuda grupos da sociedade, as suas características antropológicas, sociais e culturais, o trabalho fotoetnográfico segue a linha da antropologia visual e as pesquisas de campo e os critérios de análise e interpretação permitem que o investigador consiga traçar um perfil etnológico do grupo estudado (Boni & Moreschi, 2007). Este tipo de análise deve levar em consideração a importância do conhecimento pessoal do fotógrafo a respeito da antropologia ou, no sentido inverso, do investigador sobre as técnicas fotográficas. Como refere Andrade “a imagem, hoje, não pode mais estar separada do saber científico. A Antropologia não dispensa os recursos visuais – e não são recursos apenas como um suporte de pesquisa, mas imagens que agem como um meio de comunicação e expressão do comportamento cultural. A Antropologia Visual não almeja, dentro dos novos padrões de pesquisa, apenas esclarecer o saber científico, mas humanisticamente compreender melhor o que o outro tem a dizer para outros que querem ver, ouvir e sentir” (Andrade, 2002, pp. 110-111).

Atualmente, o investigador tem acesso a diferentes ferramentas para ajudar na análise dos dados provenientes de estudos de fotoetnografia, como por exemplo, o software webQDA (Souza, Costa, & Moreira, 2016) que trabalha com dados não numéricos e não estruturados como é o caso da imagem, do vídeo, do áudio e do texto. Numa primeira fase, o investigador é “impulsionado” a descrever factos (aquilo que o leitor pode percecionar/identificar ao ver a foto) e interpretar o que por vezes não é visível para o leitor mas cabe ao investigador contextualizar, fundamentar de forma a transmitir credibilidade na sua análise (ver figura 1).

Descrição factual foto

Figura 1 – Descrição factual e interpretativa de uma foto

 

Posteriormente, numa segunda fase, o investigador pode organizar as descrições, codificando as mesmas nas respetivas categorias (ver figura 2). As categorias podem ser definidas de forma dedutiva (categorias teóricas) ou de forma indutiva (categorias empíricas). É possível a qualquer momento ter acesso ao que foi codificado em cada categoria e cruzar estas codificações com outras provenientes de outros dados (por exemplo, vídeo e áudio).

Categorização codificação foto

Figura 2 – Categorização e codificação de foto através do software webQDA

 

O investigador deve compreender que este tipo de dados tem um enquadramento natural em algumas áreas, mas que facilmente podem ser explorados noutras. Aplicações como o webQDA permitem que o investigador use a fotoetnografia como técnica de análise, não obstante o mesmo assentar os seus “alicerces” num quadro de referência teórico “adequado”. O apoio do software nesta técnica, em particular, e na investigação qualitativa de forma geral, representa uma mais-valia para o investigador, com inúmeras vantagens: otimização do processo e do tempo associado às fases e tarefas da investigação; melhor organização do trabalho; segurança, simplicidade e rapidez de utilização; maior rigor na análise.

 

Referências

Andrade, R. de. (2002). Fotografia e antropologia: olhares fora-dentro.

Boni, P. C., & Moreschi, B. M. (2007). Fotoetnografia: a importância da fotografia para o resgate etnográfico, 137–157.

Remondes, J., Linhares, R. N., & Costa, A. P. (2016). Investigação Qualitativa em Marketing, Comunicação e Novos Meios: a técnica de análise fotoetnográfica. International Journal of Marketing, Communication and New Media, Special Is(1), 1–5. Retrieved from https://u3isjournal.isvouga.pt/index.php/ijmcnm/issue/view/11

Souza, F. N. de, Costa, A. P., & Moreira, A. (2016). webQDA. Aveiro: Micro IO. Retrieved from www.webqda.net

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