Sete Etapas Essenciais (Subtarefas Transversais) para Análise Qualitativa de Dados com Integração do Software webQDA®

Sete Etapas Essenciais (Subtarefas Transversais) para Análise Qualitativa de Dados com Integração do Software webQDA®

Francislê Neri de Souza
Dayse Neri de Souza

 

As sete etapas essenciais ou subtarefas que descreveremos a seguir são transversais ou genéricas a diversas técnicas de análise qualitativa de dados. O foco da técnica a ser utilizada na análise cabe a escolhas específicas de acordo com cada objetivo e questões de investigação. Contudo, acreditamos que estes passos podem ser utilizados de forma genérica recorrendo à maioria das técnicas de análise, como por exemplo: análise de conteúdo, análise de discurso, analysis framework, teoria fundamentada, análise de narrativas. Estas etapas essenciais não substituem o estudo cuidadoso destas técnicas e sua coerência para análise de dados numa investigação específica.

O objetivo da descrição destas etapas é dar uma noção aos estudantes iniciantes da investigação qualitativa acerca do esforço necessário para realizar a análise de dados de forma profunda, rigorosa e sistemática. Acreditamos que muitos destes estudantes subestimam a tarefa de análise de dados e as suas subtarefas. Por um lado, fazendo a análise de forma superficial, aligeirada e sem rigor científico, e por outro, misturando etapas, entrecruzando processos num labirinto de complexidade sem resolução.

Estas etapas serão descritas de forma simples e resumida para que possam ser utilizadas num cronograma detalhado da investigação, tendo por base as matrizes de coerência interna da investigação. Maiores detalhes sobre as matrizes de coerência interna 1 podem ser obtidos no trabalho de Neri de Souza, Neri de Souza, & Costa (2014).

 

Subtarefa 1 (ST1) – Levantamento e organização dos dados no webQDA (entrevistas, interações online, observações de sala de aula, questões abertas de questionários, vídeos, fóruns online, comentários do Youtube, gravações de vídeo conferências e aulas remotas etc.). Nesta etapa, cabe por exemplo a leitura flutuante ou ativa como indicado pela Bardin (2004) e Amado (2017) nos livros “Análise de conteúdo” e “Manual de investigação qualitativa em educação”, respectivamente. No entanto, seja qual for a técnica escolhida, o investigador sempre terá que reunir todos os dados e organizá-los no Sistema Fontes do webQDA. Muitos estudantes iniciantes não se apercebem de todos os dados disponíveis que coletaram nas suas intervenções no campo de investigação.

Subtarefa 1 (ST1) – Levantamento e organização dos dados no webQDA

Subtarefa 1 (ST1) – Levantamento e organização dos dados no webQDA

 

Subtarefa 2 (ST2) – Criação de um sistema de análise criando códigos livres e códigos árvore. Os títulos ou nomes de cada código (categoria de análise) devem ser curtos, acompanhados de uma descrição mais detalhada no webQDA. Aconselhamos que para dar estes títulos com no máximo 3 palavras, o investigador deve priorizar a essência do assunto e exercer um grande poder de síntese, mas na descrição deve ser mais explicativo.

Subtarefa 2 (ST2) – Criação de um sistema de análise criando códigos livres e códigos árvore

Subtarefa 2 (ST2) – Criação de um sistema de análise criando códigos livres e códigos árvore

 

Subtarefa 3 (ST3) – Validar com o especialista (orientador) a primeira versão do sistema de análise: Dimensões, categorias e subcategorias de análise (códigos árvore). Cruzar estas categorias emergentes da leitura flutuante dos dados com os objetivos e com as questões de investigação. Criar a matriz de coerência interna 2, conforme descrito por Neri de Souza, Neri de Souza, & Costa (2014).

 

Subtarefa 4 (ST4) – Codificar os dados com base nesta primeira avaliação ou ciclos de validação. Selecionar o texto e codificar de acordo com o título e descrição que foram criados na ST2. Existem muitas técnicas de codificação, mas geralmente é realizada por aquele único investigador que recolheu os dados. O webQDA disponibiliza condições para a codificação colaborativa entre vários pesquisadores (codificadores humanos) em um mesmo projeto. É nesta etapa (ST4) que acreditamos que a inteligência artificial poderá auxiliar (em breve de forma mais acessível) a codificação de grandes volumes de dados, que depois deverá ser validado na etapa ST5. Acreditamos que vários codificadores humanos externos também podem ser utilizados nesta fase, mas devem ser “programados”, assim como a inteligência artificial para codificar de acordo com os pressupostos teóricos, objetivos e questões de investigação pensados nas subtarefas anteriores. Novamente será sempre necessário a validação deste processo de codificação, seja feita por um único investigador que coletou os dados, codificadores humanos externos, o grupo de investigação ou por meio da inteligência artificial.

Subtarefa 4 (ST4) – Codificar os dados com base nesta primeira avaliação ou ciclos de validação

Subtarefa 4 (ST4) – Codificar os dados com base nesta primeira avaliação ou ciclos de validação

 

Subtarefa 5 (ST5) – Validar com o orientador e outros especialistas as unidades de textos (“referências” na linguagem do webQDA) codificadas nas dimensões, categorias e subcategorias. Existem vários processos de validação, mas podemos definir pelo menos quatro subtarefas para este processo de validação depois da codificação inicial:

  1. escolher um conjunto de categorias e subcategorias para serem validadas (amostragem teórica);
  2. selecionar um conjunto de referências (unidades de texto) para compor uma tabela no Word indicando categoria, definição e lista de referências;
  3. encaminhar tabela do Word para um painel de juízes analisarem a codificação desta amostragem teórica de códigos e referências;
  4. comparar as codificações desta amostragem teórica do painel de juízes com a codificação inicial do investigador.

Existem outros processos de validação, também úteis. Por exemplo, o projeto no webQDA pode ser partilhado em modo de visualização para que o painel de juízes possam declarar concordância e/ou discordância com as codificações específicas apontadas pelo investigador. Mas este seria um outro conjunto de subtarefas de validação.

 

Subtarefa 6 (ST6) – Fazer questionamentos sobre o sistema de categorias codificadas  (códigos árvore). Por exemplo, formular perguntas sobre a relação entre os códigos descritivos (ex.: idade, sexo, profissão … etc.) e os códigos interpretativos (códigos livres e códigos árvore no webQDA). Elementos para a construção de respostas a estes e muitos outros questionamentos podem ser obtidos através de várias ferramentas do webQDA, tais como, pesquisa de código, pesquisa de texto, sistema de contagem de referências e códigos nos “Códigos em Árvore” e matrizes quadrangulares e triangulares. Recomendamos que este questionamento possa ser sistematizado por meio da terceira matriz de coerência interna (Neri de Souza, Neri de Souza, & Costa, 2014).

Subtarefa 6 (ST6) – Fazer questionamentos sobre o sistema de categorias codificadas (códigos árvore)

 

Subtarefa 7 (ST7) – Consolidar todas as anotações, observações, questionamentos e validações num texto final descritivo, interpretativo e de triangulação com a literatura (discussão). Para a escrita deste texto final de análise, é necessário está com webQDA aberto para obter informações, matrizes e referências como exemplos na construção das inferências e discussão dos dados. Para a construção deste texto, sugerimos que se comece com uma visão geral do sistema de análise, apresentando ao leitor as dimensões, categorias e subcategorias. Depois uma visão pormenorizada e rigorosa dos dados codificados através de matrizes e frequências e exemplos de referências de cada código.

 

Referências (APA 7th)

Amado, J. (2017). Manual de investigação qualitativa em educação. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.

Bardin, L. (2004). Análise de Conteúdo (3a). Lisboa: Edições 70.

Neri de Souza, F., Neri de Souza, D., & Costa, A. P. (2014). Importância do Questionamento em Todo o Processo de Investigação Qualitativa. In A. P. Costa, F. Neri de Souza, & D. Neri de Souza (Eds.), Qualitativa: Inovação, Dilemas e Desafios (1a, pp. 125–145). Aveiro – Portugal: Ludomedia.

 

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