Por António Pedro Costa, Universidade de Aveiro
Costa, Neri de Souza e Neri de Souza no capítulo do livro “Trabalho Colaborativo na Investigação Qualitativa Através das Tecnologias” (2016) afirmam que a investigação qualitativa tem dado passos tímidos no trabalho verdadeiramente colaborativo. Na linha de pensamento de Costa, Linhares e Neri de Souza (2014), quando afirmam que “os objetos de investigação são cada vez mais complexos e multifacetados e não podem funcionar plenamente em tempo útil com a colaboração direta e intensiva de apenas de um investigador” (p. 214), os mesmos autores evidenciam que “as possibilidades de registos em múltiplos suportes consubstanciam o rigor necessário à investigação científica, possibilitando uma diversidade de aportes, estratégias, múltiplas abordagens, técnicas e métodos que contribuem para aproximar-se mais seguramente dos fenômenos, considerando, para além do racionalismo, outras formas de saber e de conhecer a realidade” (ibidem). Acreditamos, assim, que o trabalho colaborativo pode minimizar os problemas que Rodik e Primorac (2015) apontam quando referem que “a arquitectura do software pode interferir com o processo de investigação qualitativa, na medida que poderá resultar na perda de nuances de significado e interpretação que os dados qualitativos produzem” (p. 2).
Apesar das vantagens do trabalho colaborativo apontadas na literatura internacional e assinaladas neste capítulo, os investigadores desta área ainda não assumiram o processo de colaboração na rotina dos seus trabalhos de análise de dados. Em resumo, os fatores a reter neste capítulo são:
- Os processos de colaboração são de suma importância na investigação científica. As tecnologias de informação e comunicação têm-se afirmado como ferramentas indispensáveis neste e em outros processos investigativos.
- A inclusão de ferramentas de informação e comunicação traz vantagens à investigação, particularmente com o surgimento do Qualitative Data Analysis Software (QDAS) na investigação qualitativa. Estas ferramentas têm evoluído e aprimorado ao longo das décadas.
- Os estudos conhecidos parecem indicar que não existe uma consciencialização da importância do trabalho colaborativo na investigação qualitativa, ou falta simplesmente uma maior sensibilização e/ou formação dos investigadores sobre ferramentas de colaboração.
- Estão disponíveis, no software de análise qualitativa webQDA, ferramentas que podem auxiliar os investigadores a dinamizarem trabalhos verdadeiramente colaborativos.
- Acreditamos que a divulgação dos QDAS, bem como a formação sobre as funcionalidades de colaboração disponíveis, em particular no webQDA, podem incentivar o desenvolvimento do trabalho colaborativo no campo da investigação qualitativa.
Existem outros pontos e interesses de investigação nesta área. Poderíamos questionar, por exemplo, se existe algum efeito no processo de validação da análise qualitativa realizada com recursos às ferramentas de colaboração QDAS? Quais as vantagens, desvantagens e limites do processo de colaboração via QDAS? Os processos de colaboração via QDAS melhoram a transparência da análise qualitativa e a qualidade dos seus resultados? Todas estas e outras questões conduzem a mais estudos e reafirmam que estamos apenas no começo de uma jornada, num campo que pretende ser cada vez mais incisivo e melhor qualificado.
Referências
Costa, A. P., Linhares, R., & Souza, F. N. de. (2014). Possibilidades de Análise Qualitativa no webQDA e colaboração entre pesquisadores em educação em comunicação. In R. Linhares, S. de L. Ferreira, & F. T. Borges (Eds.), Infoinclusão e as possibilidades de ensinar e aprender (pp. 205–215). Universidade Tiradentes, Aracaju – Brasil: Editora da Universidade Federal da Bahia.
Costa, A. P., Loureiro, M. J., & Reis, L. P. (2014). Do Modelo 3C de Colaboração ao Modelo 4C: Modelo de Análise de Processos de Desenvolvimento de Software Educativo. Revista Lusófona de Educação, (27), 181–200.
Costa, A. P., Souza, D. N. de, & Souza, F. N. de. (2016). Trabalho Colaborativo na Investigação Qualitativa através das Tecnologias. In D. N. de Souza, A. P. Costa, & F. N. de Souza (Eds.), Investigação Qualitativa: Inovação, Dilemas e Desafios (1a, pp. 105–127). Oliveira de Azeméis – Aveiro: Ludomedia.
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